quinta-feira, 6 de abril de 2017

Odebrecht e Gradin, até que os negócios os separem!



Victor Gradin é o patriarca da família Gradin. Norberto Odebrecht, o fundador das organizações Odebrecht, convidou Gradin para trabalhar em seu grupo empresarial. Era 1974, quando a Odebrecht crescia, contudo a sua área financeira precisava ser reestruturada.

Profª. Monica de Faria 
Mascarenhas e Lemos
Victor ocupou o cargo de diretor financeiro por muitos anos, planejando e orientado importantes decisões de Norberto Odebrecht naquele crítico e delicado momento de expansão das empresas do grupo e em diversos outros relevantes movimentos estratégicos futuros. Por acreditar no potencial da empresa, e pela relação de confiança entre Norberto e Victor, este se tornou sócio da Odebrecht com uma pequena participação. A partir de 1991, Odebrecht abria seu capital e Victor, ao longo de seu tempo como gestor financeiro, foi realizando novas compras de ações.

Bernardo e Miguel, ambos filhos de Victor Gradin, entrariam mais tarde para integrar a gestão do grupo. Com o passar do tempo, se tornam presidentes de algumas importantes unidades de negócios. Como o pai, eles passaram a investir em ações da Odebrecht. Entre idas e vindas acionárias, a família Gradin se estabelece finalmente como uma holding, tornando-se proprietária de 20,6% da Odebrecht. Apesar de os Odebrecht serem os controladores do capital do grupo, havia um entendimento harmônico entre os interesses das duas famílias - os Odebrecht mandavam operacionalmente nas unidades relacionadas à construção e novos negócios e os Gradin se encarregavam da área de petroquímica e projetos industriais.

A assimetria do poder na Odebrecht, apesar do suposto bom entendimento entre as famílias, aflora no momento em que os diferentes interesses colidem entre si. Em 2010, as famílias Gradin e Odebrecht iniciam aquela que é considerada uma das maiores disputas societárias ocorridas no país. Marcelo Odebrecht, terceira geração da família e atualmente hóspede forçado na “República de Curitiba”, capitaneou a retirada dos Gradin da vida corporativa da Odebrecht. Através de alterações estatutárias, Marcelo eliminou a participação dos Gradin nos Conselhos e iniciou a sucessão para os cargos ocupados por Bernardo e Miguel.

Os Odebrecht acenaram com uma oferta de compra das ações da família Gradin. Contudo, Bernardo Gradin, representante da segunda geração da família, em franca oposição a Marcelo Odebrecht, se negou a vender suas participações. A partir desse momento, Odebrecht e Gradin entram em uma disputa que duraria, aproximadamente, cinco anos. Os Gradin invocaram o direito estatutário à arbitragem; os Odebrecht buscavam uma solução judicial. Após cinco anos nos tribunais, houve a decisão superior de que o comitê de arbitragem seria o caminho a ser percorrido para as famílias se entenderem.

 As informações que circulam na mídia, com direito a espaço na prestigiosa revista Forbes, afirmam que os conflitos gerados pela divergência de interesses dos descendentes das duas famílias sepultaram a história de amizade, lealdade mútua e respeito que existia entre Norberto e Victor. Norberto faleceu aos 91 anos no ano de 2014, e foi em 1944 que deu início aos primeiros pilares do grupo Odebrecht. Nos seus últimos anos de vida, já afastado das decisões estratégicas do grupo, teve que acompanhar uma disputa com a família daquele que havia sido amigo, sócio e fiel escudeiro. Os descendentes das duas famílias, que partiram para o pugilato de tinturas quase fraticidas nos tribunais, foram amigos de infância, estudantes parceiros e até colegas de trabalho em alguns momentos de suas experiências profissionais em empresas fora do grupo. 

Nessa melancólica sequência de fatos, o mecanismo da arbitragem acabou por levar as duas famílias amigas a um entendimento, com a separação já consolidada em 2016.

Em razão da momentosa operação Lava Jato, os descendentes de Victor Gradin, por sorte ou ironia do destino, ao contrário de Marcelo Odebrecht, não estão com suas liberdades civis restritas, como Marcelo Odebrecht. Por outro lado, o infortunoso Marcelo Odebrecht já não pode contar com o apoio amigo da família Gradin tal como seu avô, Norberto, contara em momentos anteriores e decisivos deste grande grupo empresarial brasileiro.

Como se diz na letra da música de Milton Nascimento: “amigo é coisa pra se guardar no lado esquerdo do peito”.


Professora Mônica de Faria Mascarenhas e Lemos
Graduada em Administração pela PUC/RJ. Mestre em Administração pela UFPR. Professora do curso de Administração no UNICURITIBA.

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